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JORGE BARBOSA

(1902-1971)





Jorge Vera-Cruz Barbosa nasceu na Ilha de Santiago, Cabo Verde, em 1902. Faleceu em Cova da Piedade, Portugal, em 1971. Foi funcionário público. Um dos membros mais importantes do movimento Claridade.

Publicou: Arquipélago. São Vicente: Cabo Verde, 1936; Ambiente. Praia: Cabo Verde, 1941. Caderno de um Ilhéu. Lisboa: 1956.





PRELÚDIO



Quando o descobridor chegou à primeira ilha

nem homens nus

nem mulheres nuas

espreitando

inocentes e medrosos

detrás da vegetação.



Nem setas venenosas vindas do ar

nem gritos de alarme e de guerra

ecoando pelos montes.



Havia somente

as aves de rapina

de garras afiadas

as aves marítimas

de vôo largo

as aves canoras

assobiando inéditas melodias.



E a vegetação

cujas sementes vieram presas

nas asas dos pássaros

ao serem arrastados para cá

pelas fúrias dos temporais.



Quando o descobridor chegou

e saltou da proa do escaler varado na praia

enterrando

o pé direito na areia molhada



e se persignou

receoso ainda e surpreso

pensa n´El-Rei

nessa hora então

nessa hora inicial

começou a cumprir-se

este destino ainda de todos nós.



EUGÉNIO TAVARES





Eugénio Tavares foi a figura cimeira da vida cultural, política e social de Cabo Verde entre 1890 e 1930. Durante essas 3 décadas, ele dominou em todas as áreas a cultura do seu povo tendo sido o seu maior interprete até aos nosso dias. A sua vastissíma obra vai da poesia à música, da retórica à ficção, passando pelos ensaios. Durante a festa da língua portuguesa em Sintra, Corsino Fortes, poeta e antigo embaixador de Cabo Verde em Portugal, intitula-o de "Camões de Cabo Verde" e realça Eugénio Tavares de fazedor de opinião numa enorme dimensão de pensador. Fonte: www.eugeniotavares.org/





PARTINDO



Triste, por te deixar, de manhãzinha

Desci ao porto. E logo, asas ao vento,

Fomos singrando, sob um céu cinzento,

Como, num ar de chuva, uma andorinha.



Olhos na Ilha eu vi, amiga minha,

A pouco e pouco, num decrescimento,

Fugir o Lar, perder-se num momento

A montanha em que o nosso amor se aninha.



Nada pergunto; nem quero saber

Aonde vou: se voltarei sequer;

Quanto, em ventura ou lágrimas, me espera



Apenas sei, ó minha Primavera,

Que tu me ficas lagrimosa e triste.

E que sem ti a Luz já não existe.